sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O que trazemos das férias



Existe um órgão em nós que considero muito subestimado: nosso par de retinas (em ato falho flagrante acabei de escrever “rotinas” ao invés, rs). As retinas e, mais especificamente, o cansaço que fácil demais se instala nelas. É um estado doentio muito mais comum do que se imagina, eu penso. É causa de inúmeros problemas atribuídos erroneamente a milhões de outras coisas (e, no fundo, o que está lá causando a bagunça toda é só esse par de velhinhas entediadas e rabujentas mesmo...). E não existe grupo de risco - pelo o que reparo, absolutamente todo mundo está  sujeito à peste (até crianças: é só um brinquedo passar mais de uma semana aqui em casa pra perder metade da graça pras daqui de casa).

Experimente: quer deixar de sentir a emoção que uma certa foto te provoca? Coloque-a num porta-retrato perto de você. Você terá que se concentrar muito (ou melhor, se distrair muito) pra que a foto volte a ter sobre você aquele poder de antes, quando era vista só de vez em quando num álbum. Diga aí se não é.

Não sei qual foi a engenharia genética ou espiritual que nos fez assim, mas é muito evidente esse nosso processo. As vistas se cansam no dia-a-dia, acostumam-se rápido demais com tudo e aí, mesmo continuando a enxergar, param de ver. Isso pode ter até as suas vantagens, pois com o feio, o ruim e o doloroso também nos acostumamos, mas o torpor cobra um preço alto: também paramos de sentir (pelo menos de sentir como caberia) o que temos de bom na vida. Principalmente se esse bom é daqueles de presença suave e cotidiana, como, exemplos, uma saúde que não dá problemas ou um maridão velho de guerra, que não dá mais nenhum frio na barriga, mas que é quem sustenta a sua vida (feliz) nas mãos dele. Diagnóstico: pura retina cansada.

Outro problema das retinas com tempo de validade vencido é o erro de avaliação. Veja: é só a gente mergulhar demais numa coisa pra não conseguir mais ter uma opinião mais consistente sobre ela. Perdem-se as incríveis sacações do primeiro impacto. Repare quando a gente volta de viagem e abre a porta de casa. Por alguns preciosos segundos, conseguimos enxergá-la como se não fosse nossa, e se deliciar com o seu aspecto que a gente já enchia de defeitos ou, ao contrário, perceber que aquela aquarela de cores que colocamos na sala, no final das contas, não ficou tão stylish como se pensou... Tenho isso com o que escrevo no trabalho: vai ficar muito melhor se entre escrever e soltar houver uma noite no meio.

Distanciamentos, tempos... Férias!

As férias são um excelente antídoto contra essa corrosiva canseira de olhos. Se não resolve, alivia que só. Uns míseros dias já fazem mágica, é muito impressionante. Até férias ruins servem, pois as duas velhotas aí do seu globo ocular até que não são tão exigentes: elas só querem variar, mesmo que seja pra pior!

Além do bigode de melasma mais forte, foi isso que eu trouxe das inesperadamente espetaculares férias da semana passada: uns olhinhos desenrugados que acharam a vida por aqui uma lindeza. Como dizem os chilenos "que buena onda"!

Até que dois dias depois a babá pediu as contas e aí não teve frescor praiano que me segurasse zen! Mas isso já é outra estória...

2 comentários:

  1. Minha amiga Bela ... Bela amiga ... Eu viajo nas tuas estórias, me encontro nelas ... Amo te "ler" ... Obrigada por compartilhar conosco. Te amo muito, vc é um presente de Deus na minha vida. Bjs imenso
    Simone (Nina e Gabo)

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  2. Uau!!! Lágrimas de encontro, de me achar "normal"... Obrigada!

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