Minha mãe sempre diz, quando está
com os netos, que a boca dela enche d’água.
A tradução disso é que com os netos é sempre como se ela estivesse
comendo a melhor comida do mundo. Faz muito sentido porque um dos maiores
prazeres que ela tem na vida é cozinhar, cozinhar pra encher d’água a boca de
quem saboreia as delícias mineiras e árabes que só ela bem sabe fazer. Hoje, ela completa alguns bons e velhos anos.
Hoje, roda mais uma etapa de uma jornada de vida cheia de detalhes áridos:
morte do pai aos doze anos por atropelamento, coincidentes doze mudanças de endereço
na adolescência, um ano sem escola por puro esquecimento e uma vida financeira
digamos fora dos eixos da estabilidade. Tudo isso, claro, lhe renderam algumas
boas rugas, mais do que ela desejaria. Sorte
é que se o rosto dela carrega marcas, a
alma traz enormes sulcos de generosidade. Generosidade essa que faz bolinho de chuva de
problemas verdadeiramente grandes. Ao menos comigo foi assim quando passamos
juntas por um dos momentos mais difíceis da minha vida. Ela nunca julgou. Nunca,
nunca e nunca. Sempre me disse para esperar e ter calma. Foi o que fiz e anda
dando muito certo. Voltando a água que enche a boca, preciso dizer que o prazer
enorme que ela encontra nos netos, pra lá de um baita amor a eles, na verdade, é
um raro dom. Quando eu a vejo cuidando de crianças e simplesmente conseguindo
traduzi-las ainda que não falem, eu fico com muito orgulho de ser filha de quem
sou. Sei bem que ela carrega certa tristeza por não ter estudado a tal “medicina”
dela. Mas como diz a pediatra e psicanalista francesa Francoise Dolto “qualquer
um que se empenhe em ouvir a resposta das crianças é uma mente revolucionária.”
Por isso minha mãe é minha PHD, sempre a frente de seu tempo...
é isso mesmo Mariana, a grandeza nem sempre está, somente, na formação.
ResponderExcluirbjo Thiciane