terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A heroína de hoje


O filme “Branca de neve e o caçador/white snow and the huntsman” é uma releitura bem diferente do conto infantil que conheci quando criança.

Tinha na lembrança uma princesa bondosa e inocente que era salva pelo seu príncipe. Esta é, inclusive, a síntese não só deste conto infantil, mas de vários outros do gênero: Cinderela, Bela Adormecida, Rapunzel (acho que na minha infância só havia essas princesas!).

Este enredo, inclusive, foi mote para criação de algumas obras literárias, entre elas, “O Complexo de Cinderela”, de Colette Dowling, publicado em 1981, que trata do desejo utópico das mulheres em serem salvas por um príncipe, como fuga e negação da responsabilidade por si mesmas.

Mas, voltando ao filme: fui ao cinema sem nenhuma pretensão, a não ser de me distrair, e me surpreendi com o que assisti.

O filme branca de neve de hoje traz uma mocinha muito diferente da que me recordava. A heroína atual ainda é uma moça boa e ingênua, mas ao longo do filme, mesmo mantendo o seu bom coração, torna-se uma mulher forte, destemida, e não mais frágil como no início.

A Branca de Neve de agora, ao ter sua vida poupada pelo caçador, além de ser salva, é também salvadora.

O filme é tão inusitado, que não chegamos a ter certeza se a Branca de Neve possui ou nao um príncipe!

Ela é, sem dúvida, despertada do sono profundo pelo caçador, que, pela segunda vez, salva sua vida. Mas, como dito antes, ela também o salva.

Demonstra, assim, o equilíbrio que deve haver na relações afetivas, não de dependência, busca de felicidade e soluções para si próprio no outro, mas de partilha, troca, amizade e confiança.

A atual Branca de Neve não somente salva as pessoas do seu reino das atrocidades de sua madrasta, mas com a pureza de seu coração e coragem para lutar, inspira os que a seguem, trazendo a vida, a esperança e a liberdade de volta a todos.

Demonstra que são as nossas atitudes que transformam a realidade; o que fazemos hoje, repercutirá no amanhã. Somos, mesmo sem ter consciência ou vontade, responsáveis por nós mesmos e pelo que vamos deixar.

O que realmente marca no filme é a transformação pela qual passa a heroína, o que faz lembrar Ernesto Che Gevara "hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás", sempre me recordo desta frase e, ao ver o filme, não foi diferente.

Há situações em que a vida não nos deixa escolha.  Nestas ocasiões somos obrigados a agir ao contrário do que queremos, para o nosso próprio bem ou para o bem daqueles que amamos.

Isso ocorre desde as situações mais frequentes, como repreender nossos filhos para poder melhor educá-los, até outras mais complexas, como em um dia de trabalho, ou mesmo na vida privada, em que nos vemos impelidos a fazer valer nossa vontade para não sermos atropelados frente a alguma injustiça.

Branca de Neve, assim como acontece conosco, não nasceu sabendo lutar e, até mesmo não o queria, mas ajudada pelo caçador, foi lembrada por este que haveria algum momento em que ela também não teria escolha, precisaria ser dura e ao mesmo tempo manter-se íntegra.

Eis o equilíbrio que devemos tentar alcançar: agir quando necessário para defender o que acreditamos e sabemos ser o certo, sem deixar que as dificuldades acumuladas pelo caminho endureçam também a nossa alma.

 

 

Thiciane Guanabara

 

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