sábado, 31 de agosto de 2013

(In) temperanças



Sigo devagarinho uma vida de pequenas andanças
Pego carona no voo dos pássaros e nado com os peixes
A calmaria da tartaruga aquieta o meu respirar
Quem me dera por um momento ter pés como os das corças
Elas andam em lugares altos e não ficam tontas
Mas é na velocidade do guepardo que corro para o alvo
Na bagagem levo a bússola que faz o norte virar sul
E eu já não sei se prefiro o leste ou o oeste
Só sei que sonhei os sonhos de criança
E que o sol que bateu na janela do meu quarto despertou-me já adulta
Travo uma batalha contra o diluído tempo e vou ao seu encontro
Reza a lenda que ele é o senhor do destino e um dos deuses mais lindos
Ele não engana e adverte haver pedras no caminho
Nelas tropecei e até caí
“Levanta-te e anda” é a voz que ecoa de dentro para fora, acalentando o coração
Mas também há flores e bem-te-vis
Há jardins, aromas e sabores no percurso
Nesse lendário calendário não há espaço para o inodoro, insípido, incolor
E o insosso nada atrai
Vida que é vida tem um punhado de temperança e uma queda pela insensatez
Vida que é vida traça novas rotas de sal e açúcar
Nem só de doce e salgado meu caminho se fez
Pimenta, gengibre, cravo e canela,
Misturam-se ao longo da estrada
Compõem novos passos de dança
Já não me importo se a linha do horizonte me distrai
O que importa é que nessa longa estrada eu vou
E que nessa estrada eu também sou tudo aquilo o que as minhas (in) temperanças me permitirem viver.
Caroline Sena