segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

cartão de aniversário

A gente se conheceu ainda no colégio. Depois, estávamos juntas na faculdade. Eu a achava metida. Hoje vejo que de metida não tinha nada: é uma das pessoas mais simples que conheço. Só que por essas compensações nossas, ela é uma mulher luxuosa, que gosta de coisa boa, de preferência cara, e se recheia disso, além de usar de escudo pro coração mole que tem um narizinho empinado, com um leve ar de superior. Aos 20 e poucos anos, eu resumia isso tudo pra mim com um curto e burro: "que metida essa garota!".
No finalzinho da faculdade, nos aproximamos. Acabei entrando para o seletíssimo rol dos seus amigos; uma pouca gente para quem ela abre em flor a sua doçura e chama para passar a viver ali, no centro do seus sentimentos e da sua fidelidade, que é canina.
Desde então tenho "assento" nos seus aniversários. Literalmente, porque nos últimos anos ela vem escolhendo comemorar com sua dezena de amigas em algum restaurante in da cidade. Cadeiras contadas, destinadas de antemão para cada convidada. Cada ano fica mais chique: esse último tinha cardápio particular para o evento e bolo confeitado individual de lembrancinha (!). Faz parte dos seus mimos a quem "assenta" em sua vida.
Não temos um dia-a-dia. A correria é sempre muita e são rotas de rotina e de vida diferentes. Mas para os seus aniversários eu sou religiosamente convidada há uns bons 15 anos. Sexta agora que passou era um desses. Me chamou. Não conseguiu falar comigo, insistiu, deixou recado no celular, no facebook, onde mais conseguiu. Eu, que tava louca pelejando com redemoinhos da semana (volta ao trabalho depois da licença maternidade; colégio novo dos mais velhos; berçário para a mais nova; babá nova), vendo todos os recados, me peguei pensando Mas será que ela tem dúvida que eu não vou? Só morta. E me vi respondendo com ar impaciente: É claro que eu vou no seu aniversário, sua besta. (sua besta ficou só na minha cabeça).
No dia, driblei um monte de coisa (três meninos pra mandar pra escola de fantasia e nenhuma fantasia em casa; cento de brigadeiro para a festinha da escola para providenciar; a mais velha em pânico em casa com o seu primeiro dever de casa; sozinha no trabalho respondendo por tudo), mas cheguei lá no almoço, com presente pensado pra ela e tudo.
Não sei se ela percebeu, mas tinha acabado de dar uma choradinha no carro. Tinha me emocionado pensando justamente no aniversário dela, pensando que eu não estava ali esbaforida e tresloucada à toa, muito menos por obrigação, tradição, culpa ou vontade de ter um almoço de primeira grátis. Nada disso. Aliás, se tem algo maravilhoso dessa curva dos trinta e tantos/quase quarenta, é que a gente vai se sentindo cada vez menos obrigado a estar presente em qualquer coisa, é ou não é?
Pois o que me fazia ter dado nó em pingo d'água naquela manhã era um sincero sentimento de amizade. Puro e na veia.
Mas se a gente não convive quase nada, que amizade é essa?, a minha diabinha de estimação me sussurrou no ouvido, no que deu passagem pra eu sentir na pele o rio profundo de amizade que nos corta. Na hora, me vieram na cabeça coisas que parecem frase-feitas, mas não são, que parecem simples, mas não são, que parecem comuns, mas... não são de jeito nenhum. Ela é minha amiga porque, primeiro, gosto muiiiitooo dela, sem saber explicar direito o porquê. E disso vem que torço por ela. Torço mesmo, não da boca pra fora ou só pra constar. E, sempre que ela precisa de mim, até onde meus braços alcançam no mundo, lá eu estou mexendo pra ajudá-la.
Eu que adoro uma teoria (né, Baquero?) xarope (né, Beto?) rascunhei na hora: gostar sem explicação, torcer e ajudar. Eis do que uma amizade - das boas, das para sempre, das verdadeiras - é feita. Se der também pra partilhar a vida, ótimo, mas isto não é essencial (e aqui eu me sinto dando uma rasteira na vida loca: você me enrola todinha, mas, veja só, não consegue levar embora meus amigos, não...).
Eu só não tinha conseguido fazer uma coisa antes de chegar no almoço: escrever pra ela o cartão de aniversário que queria. Com uns dias de atraso, aqui está, Mari Becker, o seu cartão de aniversário. (;




4 comentários:

  1. Lindo Bia, um lindo presente pra querida Mari com suas coloridas e doces palavrinhas.

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  2. Nossa Bia, cartão incrível com direito a foto e tudo :) Como nao me emocionar?
    Amo vc: na minha vida, nos meus aniversários, no meu coração <3 <3 Acho ate que vou começar a comemorar uns 10 aniversários por ano ;) MARI

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    1. Ô Mari... Eu reli o meu texto e tenho um reparo a fazer: eu não sei explicar porque gosto tanto de vc só pelo fato de que sentimentos são mesmo inexplicáveis, mas é claro que as suas 1001 qualidades me dão razões óbvias para ser assim...(;

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  3. Que linda homenagem Bia! Sincera e tocante. Que Deus siga sempre iluminando essa amizade tão forte e verdadeira. Beijos, Carol Rezende

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