O
comércio parece
ainda despertar
e
o meu dia já
gira
há algumas horas. Me vem à cabeça cenas curtas do mover-se das mulheres francesas. Elas não fogem do perscrutar dos meus olhos. Gosto da aparente ou
real lentidão
delas. Parecem flutuar em suas bicicletas de cestinhas. E
quando não há duas rodas e o transporte repousa nos pés, as mãos
(normalmente
a
das
senhoras),
ficam livres para carregarem flores. Algo
me diz que estão a cultivar pausas.
Outro
dia, uma francesa pediu
ao cachorro dela, que estava muito agitado, que agisse lentamente
comigo. Usou a expressão “lentement”. Que
tesouro um pedido
desse! Talvez,
esteja a precisar que alguém segure minhas mãos e diga:
“lentamente,
Mariana”.
Nesse
momento o
“tram”
me sacode de
maneira gentil. Reparo uma mãe
que
lê para
o seu bebê. Ela
o faz de forma vagarosa.
E o bebê, a
imitar a mãe, passa
seus dedos sobre o livro como
se não existissem relógios. Observo ambos e me indago
porque ando a correr. Corro
com meus pensamentos. Corro com meus pés calçados e até mesmo com minha bicicleta curiosamente pouco veloz.
Um sinal
dentro
do “tram” indica
minha parada. Place de La Victoire.
Desço.
O
frio aligeira meus passos. Será
mesmo a
temperatura a me apressar?
Chego
até minha rua. Cours
de L'yser.
Vejo
no
caminho até minha casa um
homem limpando os vidros de um restaurante. Não
diria ser francês dentro dos meus estereótipos imaginários. Seu
semblante é feliz. Faz
gestos
suaves
com
os produtos de limpeza que tem nas mãos. Imediatamente, eu paro.
A
lentidão
me invade. Escuto
ao pé do ouvido a tal francesa dizer: “lentement,
Mariana”. E só, então, me dou
conta da beleza da rua que escolhi para morar, apesar de já a ter
esconjurado muito
mais vezes que meu marido gostaria de escutar. Nessa
rua, a
França concretiza também suas mazelas. Nela se
mimetizam o
que costumamos
evitar:
contradição,
mistura, sujeira, velhice,
alcoolismo e, quiça,
o
tédio.
Mas
para mim, agora, é
a rua onde existe
um
moço,
que limpa
delicadamente os vidros de seu provável comércio e me fez
pausar. Assim,
pra me vida me levar. Lentamente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPrecisamos todos pausar ou ralentar um pouco, não é?! Adorei o texto! Quanto tempo vocês ficam por aí? Beijos e curta muito essa oportunidade de viver mais lentamente.
ResponderExcluirQue bom q gostou!!! Voltamos em janeiro. Pausa curta!!! Bj
ExcluirE se a gente pudesse fazer a vida mais lenta, seríamos mais felizes, doces e respeitaríamos mais o outro, não é?
ResponderExcluirAcho que sim. Difícil é conseguir trazer pausas para o dia a dia!!!
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