- Dos
cacos à luz
Ela
me disse um dia que não era boa em cuidar. Poderia ter acreditado, até o dia em
que meus cacos se espalharam num chão de ardósia verde. Um chão que ela sempre
me disse adorar, mas que agora me abrigava “completamente” quebrada. Ela
apareceu com seus olhos também quase cor de ardósia e me disse:
“Existe,
gente, Mariana, que não consegue dar sentido, ou acha que os farelos de sentido
que consegue escavar das pedras são insuficientes para justificar uma vida
humana, e quebra. Quebra por inteiro. Estes, você, precisa respeitar, porque
sofrem de delicadeza. E existe gente, Mariana, que só é capaz de dar um sentido
bem pequenino, um sentido de papel, que pode ser derrubado mesmo com uma brisa.
E essa brisa, Mariana, não pode ser soprada pela sua boca. Ser forte, Mariana,
não é quebrar os outros, mas saber-se quebrado. É ser capaz de cuidar dos seus
barcos de papel – e também dos barcos de outros – não como uma criança que os
imagina poderosos, de aço. Mas sabendo que são de papel e que podem afundar de
repente.” (texto de Eliane Brum adaptado)
Em
seguida, recolhemos, as duas, bem juntas, os meus tantos pedaços dispersos naquele chão. Não para juntá-los, não para colá-los, mas pra fazer deles percurso
de uma vida, onde há feixes de luz, delicados, sutis e que entram pela fresta
de uma janela, que ela costuma deixar entreaberta.
-
Da luz que ela e eles produzem
- Da distração ao amor
"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são de uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Tudo só porque não tinham prestado atenção, só poque estavam e ainda estão bastante distraídos." (Texto de Clarice Lispector adaptado)
- 18 ou 40? 40, em pleno voo. (Frase do post À beira dos quarenta, cresceram-me asas)
"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são de uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Tudo só porque não tinham prestado atenção, só poque estavam e ainda estão bastante distraídos." (Texto de Clarice Lispector adaptado)
- 18 ou 40? 40, em pleno voo. (Frase do post À beira dos quarenta, cresceram-me asas)
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