sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Por uma vida de cantinhos


Em 2012, me mudei para uma casa. Não é uma casa grande, mas eu, cria de apartamento a vida toda, nunca morei em tanto espaço. Foi uma época também muito sem dinheiro, consequência dessa mudança e dos outros vendavais do ano. E eu, que tenho fixação em arrumar, reformar, decorar e redecorar casa, fiquei fazendo força para ter a paciência que o desencontro “casa nova/falta de dinheiro” pede.
Meio angustiada, acabei descobrindo uma maneira de dar azo ao meu tesão e, ao mesmo tempo, não arruinar de vez com as finanças.
Cantinhos.
Sem grana para grandes mudanças ou transformações gerais, tive a ideia de ir mexendo na  casa aos pouquinhos, ou melhor, “aos cantinhos”. Delimitava espaços bem pequenos, às vezes só um lado de uma parede ou o conjunto de gavetas de um determinado armário, e me dedicava longamente àquilo, como se não houvesse nada mais na casa. Limpava-o milimetricamente (e olha que uma boa limpeza é às vezes tudo o que o negócio pede e a gente nem desconfiava...); arrumava de um jeito diferente, colocava uma flor, um quadrinho; passava uma demão de tinta de outra cor. Matutava, enfim, dias sobre o que eu poderia fazer para aquele cantinho ali - só ele e esquecendo o resto da casa - ficar mais alto astral, mais funcional, mais aconchegante (tenho tara por aconchego) ou só mais bonito mesmo.
E não é que descobri uma força danada nessa besteira de cantinhos? Porque se eu pensasse na casa toda ou mesmo na sala ou na cozinha inteira, e em tudo que aparentemente eu queria mudar, perdia as forças automaticamente, fosse por causa do dinheiro que não tinha, fosse por causa da energia que também não sobrou pra muita coisa em 2012. Agora, se eu pensasse só naquele pedacinho da casa, me empolgava na hora achando que seria moleza, era só eu colocar a caixola pra funcionar e as mãos pra trabalhar.
Já mexi em vários cantinhos. Cantinho de ler na rede. A última poltrona do sofá da sala de TV, onde arrumei uma bandejinha perfeita e providencial pra se tomar um vinho ali. Cantinho das crianças brincarem com tinta. Cantinho no quintal que dá pra colocar uma canga e ficar deitada, cara a cara com o céu.  Um cantinho azul na sala porque azul é o que há. Um cantinho da cristaleira com todas as xícaras brancas penduradas, dando um ar de casa de roça que adoro. Enfim, venho me ocupando com a minha cachacinha, não gastando tanto, e, como não, de cantinho em cantinho, a casa vem ficando um brinco.
E o que isso tudo tem a ver com esse blog e o primeiro post que ouso?
Cantinho. Esse blog é... um novo cantinho. Agora não da casa, mas da minha vida. Porque, num dia desses em que mexia em algum traço da minha casa, me ocorreu que essa forma de fazer podia ser, na verdade, uma maneira de viver. Viver de cantinhos, esquecendo de propósito do “quadro total”, se é que há um. O trabalho te realiza? Você é feliz no casamento? É uma boa ter três filhos? Aliás, você é feliz? Ai, sei lá! Sei que acabei de voltar de uma tarde com minha mãe e os dois menores e foi um passeio ótimo. Sei que hoje meu marido me deu, do nada, uma capa nova de celular, exatamente uma que um dia eu apontei pra ele numa vitrine. Sei que acabei de receber um email muito legal de uma amiga minha de mais de vinte anos, que vive há anos em outro país, e o que ela escreveu me encheu de ternura. Sei que minha filha de cinco anos voltou há pouco da colônia de férias e me deu com tanta empolgação, mas tanta empolgação um passarinho de biscuit que fez que foi impossível não achar, ali naquele segundo, que a vida é linda e fácil.
Cantinhos.
Arrisco dizer que é tudo o que de real a gente tem e que o geralzão das coisas, além de nos dar uma canseira danada só de pensar, além de nos desgastar ao extremo na tentativa de ser controlado e definido, na verdade é algo intangível, que foge às mãos, mesmo as de mais destreza, e às caixolas, mesmo as mais perspicazes.
Pois aqui começa mais um desses cantinhos pra mim - pequenos, possíveis e deliciosos. E eu não poderia estar melhor acompanhada: pela Mari - sem dúvida, um dos melhores cantinhos da minha vida!
Que seja divertido, emocionante e “acrescentante” para nós e... talvez (tomara) pra você!

8 comentários:

  1. Adorei! Acho que vou ficar muito nesse cantinho...Tem tudo pra ser um sucesso o blog com vcs duas. Parabéns e que venham muitos outros posts! Bjs. Lilia.

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  2. Adorei o texto e a ideia dos cantinhos! Genial! Parabéns, espero que sigam com este cantinho!

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  3. Parabéns! Ótimo saber que poderei desfrutar de ótimas leituras por aqui. Beijos!

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  4. que legal, meninas! parabéns!!
    tenho certeza que esse cantinho será muito bem aproveitado com os belos textos de vocês :-)
    beijos,
    renata

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  5. Legal,Gabriela,
    Bom cantinho.
    Abraços e beijos a todos por aí,
    Felipe Fontenelle

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  6. Oba! Adoro aconchego ! Adoro aconchego q vcs me dão! Bjs. Amore!

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  7. Gostei do cantinho, vou vir aqui me aconchegar vez ou outra!

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  8. Que texto fofo. E inspirador. Era o que eu precisava para dar início aos trabalhos (resoluções de ano novo - de novo). Com a correria do dia a dia, um filho de dois anos, um de 18, os enteados, os dogs e agregados, se não for de pouco em pouco, o trem não anda. E o tempo, como bem diz a Bia, esse garoto impossível que não pára quieto, nao quer nem saber dos nossos pormenores, ele vem e vai ligeiro... Obrigada por estarem aqui, meninas. Viva os CANTINHOS!!!!! Estou por aqui cuidando dos meus. E, ligadíssima no blog.

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