Tereza apareceu nesse dia com um
vestido vermelho opaco. O corpo precisava estar coberto por cor discreta, mas
bem certa, para que a cena fosse do chapéu de aba larga. Era um chapéu que
parecia antigo e especialmente moldado para o rosto de Tereza, com ângulos tão
bem desenhados quanto os seus olhos cor de azul mar. Essa era a Tereza que Ana
viu sair do elevador e entrar no rol de entrada do prédio, com um livro pequeno
de papel pardo nas mãos.
Elas se abraçaram com um sorriso.
Apreciavam o recato dos gestos mesmo sabendo que o tempo lhes reservava sempre
algumas poucas horas de ano para se encontrarem. E fazendo de conta que não
havia fim para a tarde que entrava, saíram.
Escolheram, depois de um táxi e uma
curta caminhada, um café com mesas mais juntas do que o usual. Elas vinham por
pura coincidência de um lugar onde se cultuavam os segredos. Por isso acharam
um bocado estranho conversar perto de tantas outras conversas.
Procuraram, assim, uma mesa de
canto. Era-lhes difícil entremear. A comida e a bebida chegaram meio que em
ondas telepáticas. O que importava era a tessitura das frases, que quando não
flanavam, aterrizavam em silêncio. Era isso! Havia entre Ana e Tereza uma prosa
em ritmo lento que permitia pausa, distração e encantamento. Não lhes cabia ali
um cotidiano. Só o que sentiam lhes dava enredo.
O telefone de Ana tocou. Foram-se
Ana e Tereza. Andaram e o sol ainda estava lá, quente e lhes dizendo que os
seus esquecidos segredos haviam feito o presente voar.
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