"Não sei se faz sentido para mais alguém além de mim, mas no fundo sempre escrevemos para nós mesmos. Para, como disse Hélio Pellegrino, poder nascer. E descobrir-se vivo, radicalmente vivo." (Eliane Brum)
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
A menina de passos curtos
Os
passos dela eram curtos, muito curtos. Talvez, a distância entre um e outro
desse a impressão de que ela andava de forma acelerada e que fosse, quiça, apressada.
Mas se alguém a ouvisse respirar sentiria o reverso. O movimento de seus pulmões costumava dançar ao ritmo de uma bossa nova única, com toques tão mais largos
quanto mais curtos fossem seus passos. Só que para ouvir a melodia era preciso encostar
os ouvidos no peito dela. Era necessário também um diploma de jardineiro. Não
qualquer jardineiro. Só valia o especialista em lavanda. E por que lavanda? É
que só o cheiro de lavanda tinha a propriedade de decantar a maior intenção imediatista do certeiro
olhar de mergulho. E, uma vez em estado de imersão, era possível entrar no coração dela e
ouvir o quanto seus curtos passos e longos respiros e também suspiros sabiam amar.
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