segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A menina de passos curtos

Os passos dela eram curtos, muito curtos. Talvez, a distância entre um e outro desse a impressão de que ela andava de forma acelerada e que fosse, quiça, apressada. Mas se alguém a ouvisse respirar sentiria o reverso. O movimento de seus pulmões costumava dançar ao ritmo de uma bossa nova única, com toques tão mais largos quanto mais curtos fossem seus passos. Só que para ouvir a melodia era preciso encostar os ouvidos no peito dela. Era necessário também um diploma de jardineiro. Não qualquer jardineiro. Só valia o especialista em lavanda. E por que lavanda? É que só o cheiro de lavanda tinha a propriedade de decantar a maior intenção imediatista do certeiro olhar de mergulho. E, uma vez em estado de imersão, era possível entrar no coração dela e ouvir o quanto seus curtos passos e longos respiros e também suspiros sabiam amar.

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